Você sabia que o período da adolescência pode afetar diversos aspectos da vida, como aprendizagem, tomada de decisões, sono, tendência a vícios e estresse?
Nos últimos anos, a comunidade científica tem descoberto que além de mudanças hormonais, a adolescência apresenta peculiaridades no funcionamento cerebral que interferem na maneira como nos relacionamos com o meio.
As pesquisas sobre a adolescência têm crescido cada vez mais, especialmente no campo da neurociência, indicando pistas e caminhos relevantes para a maneira como lidamos com esse período do desenvolvimento em nosso dia a dia.
De acordo com a neurologista e pesquisadora Frances E. Jensen, do ponto de vista cerebral, a principal diferença entre a vida emocional dos adultos e dos adolescentes é que estes últimos apresentam menos atividade no lobo frontal, tornando mais difícil a maneira como lidam com suas emoções, especialmente em situações de crise.
Por esse motivo, os adolescentes são mais propensos a reagir com emoções mais intensas quando comparados aos adultos, que possuem maior habilidade para regular sua raiva ou medo, por exemplo, e além disso são mais sensíveis a situações estressantes.
Embora naturalmente isso já ocorra, pesquisas têm mostrado que adolescentes submetidos a situações recorrentes de estresse, como maus-tratos, podem ter sua motivação, concentração, memória e aprendizagem comprometidas. Um exemplo disso foi um estudo publicado recentemente na Revista BMC Psychology, mostrando que falta de concentração, esquecimento e pensamentos intrusivos podem ocorrer comumente em resposta a situações estressantes nesta faixa etária.
Você já parou pra pensar como isso afeta uma escola, por exemplo?
Nesse mesmo caminho, adolescentes que são emocionalmente negligenciados podem apresentar menos recursos para regular suas próprias emoções, podendo se envolver em comportamentos de risco, como abuso de substâncias, tentativas de suicídio e atitudes impulsivas. É preciso enfatizar que embora essas situações comprometam o desempenho do adolescente, devido a plasticidade do nosso cérebro, não podemos afirmar que esses comprometimentos e comportamentos serão permanentes na vida dele.
Atualmente, sabemos que é praticamente impossível retirar todos os estressores da vida dos adolescentes ( e da nossa vida também!), a tecnologia proporciona exposição a notícias e situações que tornam inviável o controle sobre o que eles assistem ou aprendem. No entanto, existem algumas situações cotidianas estressantes que acontecem muito mais perto do que imaginamos, como o bullying ou ciberbullying, exemplos de estresse recorrente na vida dos adolescentes, que são muito sensíveis a críticas negativas e podem ter dificuldade de ver a falta de embasamento nas acusações feitas por outra pessoa.
Ainda, relacionamentos abusivos, pressão excessiva por boas notas, sexualidade, rejeição dos pares e cobranças sociais podem ser bem estressantes nessa fase do desenvolvimento. Nestas situações corriqueiras que certamente ao ler você lembrou de uma ou mais pessoas, podemos ficar mais atentos para oferecer suporte ao adolescente quando necessário.
A capacidade de lidar com situações estressantes é muito importante e requer esforços cognitivos e comportamentais para reduzir o estresse.
Essa capacidade pode ser aprendida de maneira intencional ao longo do nosso desenvolvimento.
Enquanto pais, responsáveis ou mesmo educadores, atitudes como ajudá-los a sentirem-se seguros, por meio de comunicação empática, apoio e compaixão, podem ser de grande valia. Palavras de conforto e afirmação são muito importantes para que eles se sintam compreendidos e valorizados.
Ao invés de evitar conversar sobre eventos estressantes e traumáticos, você pode tentar ouvi-los e esclarecer informações em uma linguagem que eles possam compreender, isso poderá ajudá-los a entender o que aconteceu e a se sentirem mais seguros para pensar em estratégias apropriadas de regulação emocional para lidar com suas próprias vidas.
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Essas informações foram úteis para você? Se gostaria de conhecer outras formas de ajudar a lidar com estresse na adolescência, podemos conversar!
Referências
JENSEN, E. Frances; NUTT, Amy Ellis. O Cérebro Adolescente. Guia de Sobrevivência Para Criar Adolescentes e Jovens Adultos. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016
PARIKH, Rachana et al. “It is like a mind attack”: stress and coping among urban school-going adolescents in India. BMC Psychology, 7(1):31, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1186/s40359-019-0306-z. Acesso em: 10 jun. 2019.
PATTON, George C. et al. Our future: a lancet commission on adolescent health and wellbeing. Lancet, 387(10036): 2423–78, 2016. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5832967/. Acesso em: 10 jun. 2019.
Texto publicado originalmente no Linkedin em 17 de fevereiro de 2020.