A pergunta do título é um pouco provocativa, qual seria a sua resposta inicial?
Contextualizando a pergunta
A ideia é refletirmos sobre essas duas temáticas de forma integrada, mas antes convido você a conhecer o contexto em que essa pergunta surgiu. Para quem não sabe, minha formação inicial é psicologia, entrei no universo da educação (para não sair mais) quase que de paraquedas, quando descobri que educação socioemocional, ou seja, o aprendizado sobre nossas emoções e como elas influenciam a nossa vida estava crescendo timidamente no universo escolar (na época). Sempre levantei a bandeira de que essa área é transversal, pois sentir emoções é inerente a todos nós e a absolutamente tudo que fazemos, desde escolher uma profissão a responder ou não uma pessoa no WhatsApp tem influência de como nos sentimos. A grande questão não seria então como deixar de sentir emoções, como tentaram nos ensinar por tanto tempo (e muitos ainda estão profundamente engajados neste equívoco), mas como lidar com elas de uma maneira saudável para nós e para quem convive conosco.
Paralelo a isto, tenho conversado com muitos professores e amigos que estão sofrendo com a mudança brusca trazida pela pandemia, a necessidade do aprendizado de novas competências e habilidades digitais, que por incrível que pareça é algo extremamente novo para muitos, independente da idade. Abrindo um pequeno parêntese, a pandemia trouxe muitas transformações na vida de todos, estou apenas fazendo um pequeno recorte na realidade de professores que compartilham dessa angústia.
Na última semana, em diálogo com meu irmão, que é professor de matemática, eu ouvia o seu desabafo sobre como tem sido desafiador, e por vezes desmotivante e ansiogênico, conciliar as necessidades da escola com a dos professores e alunos, corroborando com o que as pesquisas nacionais já tem mostrado (Instituto Península e Nova Escola). A gestão, cobrada por resultados e por evidências pelos familiares e pelas secretarias de que o processo está dando certo a todo custo; os professores, cobrados por manter aulas independentemente de como farão isso, mesmo praticando um outro formato há anos, agora precisam “dar um jeito” de alcançar os alunos e mantê-los nas aulas remotas de maneira inovadora (sem falar nas mudanças de rotina que impactam diretamente suas práticas); e os alunos, que estão em casa, mas não estão de férias, e precisam encontrar uma motivação para estudar e se interessar por conteúdos que frequentemente são apresentados tradicionalmente e conciliar isso com outras atividades domésticas, como cuidar dos irmãos, ajudar na casa etc.
Eu poderia escrever um livro com inúmeros motivos que estão fazendo dessa realidade um desafio para todos os envolvidos na educação. Mas, gostaria de ressaltar apenas um fato nesses diferentes contextos:
todos estão sofrendo com isso, sem exceção!
E a questão não é saber quem está sofrendo mais ou menos, isso não faz o menor sentido do ponto de vista psicológico. O ponto é reconhecermos que tudo isso passa pela maneira como nos sentimos e influencia nossos comportamentos, por vezes inadequados e dolorosos, diante dessas situações.
É meio estranho escrever isso, mas eu acho lindo, embora estejamos em um momento trágico, a maneira como a vida conversa com nossas emoções integralmente e como isso ficou evidente após a pandemia. Quem me conhece sabe que tenho uma visão muito otimista da nossa vida emocional, mesmo sabendo que nem sempre é agradável sentir todas as emoções, pois compreendo que elas possuem um papel fundamental na manutenção de quem somos.
Respondendo à pergunta inicial
Dito isto, estou pensando há alguns dias sobre uma maneira de contribuir com o universo educacional a partir de uma visão integrada, não descolada, do maior desafio que tenho ouvido de docentes nas últimas semanas: o aprendizado de novas tecnologias. Para você pode ser uma coisa simples, mas acredite, compartilhar um link, por exemplo, pode ser o maior desafio da vida de um professor na atualidade. Aprender coisas novas rapidamente e sob pressão pode ser bem doloroso. A verdade é que não fomos formados para educar com tecnologia, isso é algo bem recente, mesmo considerando os desafios e competências para o século XXI que são dialogados desde a década de 90. O que a pandemia fez foi basicamente resgatar bruscamente necessidades que não estavam em nosso currículo formativo ou não eram consideradas prioridade no momento, com o adicional de não termos tempo de passar por um longo período aprendendo com folga e tranquilidade.
Respondendo a pergunta principal deste artigo, o aprendizado de novas tecnologias está integrado a nossa vida emocional de forma muito íntima, pois a nossa abertura para aprender, a nossa motivação em continuar aprendendo, falhar e tentar novas alternativas, tolerar a frustração de dar um passo pequeno de cada vez quando queremos fazer logo tudo, ou de não conseguir fazer algo e mesmo assim não desistir, aceitar que tudo bem não dar conta de tudo e continuar fazendo o que podemos... tudo isso está conectado e pode transformar nossa visão acerca desses novos aprendizados.
Nesse sentido, decidi começar a escrever um pouco sobre essa temática: de que maneira habilidades socioemocionais podem ajudar os docentes no aprendizado de novas tecnologias? Meu objetivo é tentar ser o mais prática possível, considerando o contexto da aprendizagem digital, com dicas e informações que podem ser úteis e aplicadas no dia a dia especialmente do professor, mas também de todos aqueles que precisaram aprender novas competências digitais do dia para a noite.
Farei o compromisso de uma publicação semanal e estou aberta a sugestões de temas que sejam interessantes ao seu contexto. Na próxima semana, o primeiro texto abordará por onde começar, que ajudará mesmo aqueles que já começaram por livre e espontânea pressão. Enquanto você espera a primeira postagem, que tal conhecer um breve texto sobre resiliência?
O que você achou da ideia?
Este artigo foi publicado originalmente no Linkedin em 27 de julho de 2020.