Geralmente, quando estamos diante de um novo desafio a pergunta que persiste é: por onde eu deveria começar?
E de forma frequente nosso desejo é iniciar pelo final, onde a gente já conseguiu alcançar o nosso grande objetivo, quando não traçamos metas absurdas para chegar o mais rápido possível àquilo que queremos.
No contexto da pandemia, isso ficou ainda mais evidente porque tempo se tornou uma variável escassa, é preciso aprender para ontem muita novidade que nem pensamos em usar em nosso cotidiano.
Romantizar a inovação diante da pandemia pode se tornar delicado à medida que pessoas que não conseguiram se organizar rapidamente ou que sentiram mais intensamente o impacto do contexto em que estamos (seja por qual for o motivo), se sentem ainda mais frustradas e incapazes de acompanhar ou mesmo iniciar novos formatos de fazer.
Especialmente quando estamos imersos em uma cultura onde o aprendizado sobre nossas emoções e como lidar com elas é novidade e ainda não faz parte da vida de boa parte da população. Lembre-se que todos estão sofrendo e muitos não sabem ainda o que fazer com isso.
Se você se identifica com esta situação, antes mesmo de conhecer os passos, peço gentilmente que pare por um momento e respire fundo. Respirou?
Agora pensa aqui comigo: o tempo é curto para aprender coisas novas e o nosso desejo tende a oscilar entre dois extremos – replicar exatamente o que fazíamos na sala de aula no ambiente on-line ou mudar completamente o que você fazia na escola a fim de ter sucesso total no contato com os alunos.
Ambos tendem a nos deixar frustrados porque são objetivos que não são realistas diante do nosso contexto. Por isso, antes de tudo recomendo que você considere evitar os extremos, a história nos mostra que polarizações machucam mais do que ajudam.
Isto colocado, vamos agora a 3 passos que podem te ajudar no início do aprendizado de novas tecnologias:
Foto: Pexels
1 – Filtre informações a partir das suas necessidades
Embora o tempo seja curto, temos ouvido sobre milhões de coisas que todo mundo precisa aprender para ontem e você sinceramente deseja aprendê-las (ou nem tanto assim), mas se sente desanimado com a quantidade de informações e necessidades.
Talvez você já tenha concluído o óbvio: você não vai conseguir aprender tudo no tempo necessário.
Peço, então, que tente fazer um recorte entre todos os conteúdos que tem ouvido falar e lembre por um breve instante daquilo que sua mãe dizia em um futuro distante (ou nem tanto assim): você não é todo mundo. A sabedoria das mães é maravilhosa, embora esqueçamos algumas delas depois de algum tempo.
Por que é importante ter esse pensamento para começar?
Porque não sendo todo mundo, você precisa estabelecer um ponto de partida único que considere a pessoa mais importante no processo de aprendizado: você. Nesse sentido, será possível filtrar dentre a chuva de informações sobre o que precisamos aprender, por onde deveria começar, mesmo que seja por um passo muito simples e aparentemente “pequeno”.
Se você não sabe compartilhar uma tela durante uma aula on-line, por exemplo, você não deveria sentir vergonha, coloque isso em sua lista de prioridade ao invés de estabelecer que você precisa aprender a fazer dinâmicas em sites interativos durante a aula.
Como fazer dinâmicas se você ainda não consegue compartilhar a tela? Veja que a questão não é não aprender as novidades que deseja, mas estabelecer uma ordem de prioridades partindo do seu conhecimento e necessidade específica.
Neste momento de tensão e pressão, "passar o carro na frente dos bois" poderá te deixar ainda mais ansioso e desmotivado. O ponto de partida deve ser só seu, evite se comparar com o professor Fulano ou Sicrano que já grava vídeos na internet desde o ano passado.
A história dele é outra, assim como as motivações, aspirações e trajetória também. Antes de passar ao próximo passo, seu desafio é conseguir colocar em um papel (ou no computador/ celular) o que você precisa aprender de novo, partindo do mais básico que consiga imaginar.
Feito isto, comece a filtrar as informações que pesquisa para focar nestes aprendizados e, por ora, salve outras informações que achar interessante em outro espaço ou em outra folha, mas guarde para um próximo momento.
2 – Considere que somos e vivemos em um mundo complexo
Seria maravilhoso se tudo na vida fosse um processo linear com começo, meio e fim e que soubéssemos predizer exatamente o que vai acontecer a partir daquilo que estipulamos, não é verdade?
Mas o fato é que a vida é bem mais complexa do que isso e tem um conjunto considerável de acontecimentos que não estão sob o nosso controle, mas interferem diretamente em nosso aprendizado e funcionamento (a pandemia está aí como um exemplo claro disso!).
Depois que você estabelecer suas prioridades de aprendizado, é importante que antes de montar as estratégias e o planejamento sobre como você vai organizar sua rotina, você compreenda que o planejamento é necessário e fundamental, pois ele será sua referência e ponto de partida, mas ele não deve ser inflexível.
Parece uma coisa besta, mas isso pode fortalecer sua tolerância à frustração, por exemplo, e te ajudar também a fugir dos extremos.
Vamos a uma situação real: você colocou uma “mini-meta” (Eu adoro essa estratégia e posso escrever um artigo sobre isso depois) de conseguir assistir a um vídeo amanhã de 5 minutos sobre como usar um recurso da plataforma X.
Você teria algum tempo disponível e após assistir ao vídeo iria praticar para checar se de fato conseguiu aprender o processo. Ao final do vídeo, antes de você conseguir acessar a plataforma, seu filho acorda repentinamente e você precisa se envolver em outras demandas, como dar atenção a ele ou levá-lo ao banheiro. Não ter saído exatamente como você planejou:
a) Não anula o tempo que você conseguiu aproveitar para se concentrar em algo;
b) Não deve servir de parâmetro para você achar que se não conseguiu cumprir aquela “mini-meta” simples do jeito que planejou é melhor não fazer mais nada, porque não dá certo mesmo e porque você nunca consegue fazer o que almeja e... Você já conectou um fato com muitas outras histórias que alimentam em você pensamentos que muitas vezes não fazem sentido, percebe?
Tudo bem uma coisa aqui e ali não sair como planejado, se não depende de você, dificilmente você conseguirá ter total controle.
Isso vale para filhos, dores de cabeça, no corpo ou qualquer eventualidade.
Reorganize suas “mini-metas” de acordo com esses imprevistos pontuais, considerando o imprevisto em si, não eventos anteriores, e procure ser flexível com o seu contexto e com você mesmo.
Isso não é um convite a flexibilizar tudo e justificar a falta de organização e consistência de algumas pessoas, é uma reflexão sobre como o contexto varia e nós precisamos considerá-lo para replanejar e compreender sempre que necessário.
3 – Escolha alguém de sua confiança para compartilhar seus desafios e aprendizados
Já dizia Voltaire que “Todas as riquezas do mundo não valem um bom amigo”. Isso não se aplica só a bons momentos, tá? Ter alguém para compartilhar nossos desafios e aprendizados com novas tecnologias, que é o nosso tema aqui, pode ser fundamental para nos fortalecer, motivar e ajustar nossos rumos quando damos aquela vacilada com aquilo que queremos.
Você não precisa escolher 5 pessoas para confidenciar, pode ter uma que conheça suas dores e desejos para compartilhar o que aprendeu de novo e quais estão sendo as dificuldades, mesmo que ela apenas te ouça, esse apoio poderá fazer toda a diferença.
Participar de grupos que estão na mesma situação que você pode também te fortalecer a medida que você se identifica com os relatos trazidos e se sente apoiado dentro das suas necessidades.
Enquanto seres sociais, poder compartilhar um pouquinho do que somos e de onde estamos é uma ótima estratégia para regular nossas emoções, aumentando nossa motivação e buscando apoio para nossos desafios.
Você tem essa pessoa para te acompanhar no processo de aprender coisas novas?
Um companheiro ou companheira, amige, namorade, marido/esposa ou pessoa da sua escola que está em um barco semelhante ao seu.
Se ainda não, que tal compartilhar com alguém como tem se sentido e de que forma está se planejando a partir destas dicas?
Qual dica a mais você daria para quem está iniciando o aprendizado em novas tecnologias? Comenta aqui embaixo!
Publicado originalmente no Linkedin em 3 de agosto de 2020.