Quando você escuta a palavra “resiliência” o que você pensa? Ao imaginar uma pessoa resiliente, por que você atribui essa característica a ela?
Temos ouvido tanto sobre resiliência ultimamente, é aquele tipo de moda que causa algum desconforto em psicólogos, mas ao mesmo tempo traz um alívio de saber que as pessoas estão olhando para habilidades socioemocionais como importantes em nosso cotidiano.
Mas, quantas vezes as falas sobre o tema parecem discursos vazios ou palavras soltas ao vento, quase que ditando uma receita sobre o que devemos fazer ou como devemos viver? No meio da lista de ingredientes, precisamos também ser resilientes para ter uma vida mais feliz. Tudo bem, faz sentido, mas será que paramos para pensar o que significa isso antes de colocar em prática?
Costumamos pensar sobre resiliência dentro de um contexto catastrófico e adverso, em uma situação extrema, e de fato sua definição está relacionada também a isso.
Para o dicionário, resiliência, no sentido figurado, é a capacidade de quem se adapta às intempéries, às alterações ou aos infortúnios. Para Boris Cyrulnik, grande estudioso do tema, o conceito se aproxima de um processo de superação que se dá no encontro com o outro, sendo influenciada por recursos internos que um indivíduo possui, mas também por fatores institucionais e sociais. Já Lenine utiliza uma metáfora linda para falar sobre o tema, em sua música “Envergo, mas não quebro”.
Para além do significado do termo, ser resiliente, no sentido interno e individual da palavra, é resultado de comportamentos e pensamentos que cultivamos em nosso dia a dia.
Para que em meio a uma situação catastrófica sejamos resilientes, precisamos cultivar uma série de pequenos atos e posicionamentos, em situações simples, corriqueiras, que muitas vezes passam despercebidas.
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A resiliência está em construção quando conseguimos ver o lado positivo de uma situação, mesmo quando ela é extremamente desconfortável; ou quando tentamos enxergar um mesmo acontecimento por vários lados quando as pessoas tentam nos convencer de que a história tem apenas um.
Ainda, quando ligamos para alguém a fim de pedir ajuda por não sabermos o que fazer ou simplesmente para dizer que não estamos bem e precisamos de companhia; quando olhamos criticamente para aquilo que nos é imposto e tomamos uma decisão pensando em nossa saúde física e mental.
Quando conseguimos ter alguma autonomia para escolher a forma como gostaríamos de nos sentir por cinco minutos, por algumas horas, por um dia, a nossa resiliência também está em construção. Quando exercitamos compreender dentro de uma situação adversa quais pontos dependia de nós e o que não estava sob o nosso controle, ela está sendo cultivada.
Quando evitamos nos culpar pelas palavras e atos dos outros, ou pelas crenças que não nos pertencem, ela está crescendo em nós. Quando decidimos nos amar e nos respeitar apesar das nossas limitações e dos nossos defeitos, ampliando nosso autoconhecimento e utilizando essas informações ao nosso favor, ali está ela.
Isso é a resiliência nossa de cada dia sendo construída pouco a pouco, para que no dia de um grande 'BOOM' em nossa vida nós possamos olhar para o todo e conseguir manter comportamentos resilientes.
Parem de achar que a resiliência virá magicamente quando precisarmos dela, cultivem comportamentos resilientes em cada pequena ação e pensamento, como um exercício que requer atenção, esforço e, muitas vezes, algum desconforto.
Publicado originalmente no Linkedin em 15 de outubro de 2019.