Como assim planejar a vida emocional? Talvez essa tenha sido a sua primeira pergunta ao entrar nesse artigo. Calma que eu explico.
É comum traçarmos objetivos, fazermos um planejamento elaborado (às vezes até exagerado ou mesmo vago, quem nunca?) sobre aquilo que desejamos para o ano seguinte. Alguns planejam em dezembro, outros planejam em janeiro, e ainda têm aqueles que deixam a vida levar, à moda Zeca Pagodinho.
Independente de qual seja o seu caso, gostaria de chamar a atenção para uma certeza importante de seu 2021: você sentirá emoções todos os 365 dias do ano e precisará lidar com elas querendo ou não. Já parou para pensar que considerá-las e planejar ações nesse sentido pode te ajudar a viver melhor com este fato?
Venhamos e convenhamos, nunca na história do Brasil aprendemos tão bem sobre incertezas quanto 2020, concorda? Perguntas como “Meu emprego vai durar até quando? Será que minha família ficará bem? E se eu não conseguir dar conta dessa nova realidade? Estou me protegendo o suficiente?” fizeram parte do nosso cotidiano até demais. E nenhuma delas puderam ser respondidas com 100% de certeza.
Isso aumentou significativamente nosso nível de ansiedade, angústia, estresse, e nos obrigou a reconhecer que nós controlamos muito pouco dessa vida. Nesse sentido, quando a pandemia nem existia ainda, Yuval Harari já nos lembrava de algo muito importante sobre este século:
“Para sobreviver e viver em um mundo de profunda incerteza você vai precisar de muita flexibilidade mental e de grandes reservas de equilíbrio emocional”. (2020 que o diga, hein?)
Isto significa que precisamos colocar em pauta as nossas emoções urgentemente. E por que não as considerar em nosso planejamento anual? Se você ainda não tinha parado pra pensar sobre esses pontos, relaxa que ainda dá tempo!
Gostaria de trazer algumas sugestões que podem ser relevantes para o seu planejamento emocional em 2021 e te ajudar a abraçar as incertezas de forma menos dolorosa.
Vem comigo?
1) Coloque como meta tentar acolher a todas as suas emoções (caso você ainda não consiga fazer isso)
Sim, todas! Exatamente, até aquelas que doem lá no fundo. Evite dizer a si mesmo que você não pode sentir tristeza, ansiedade ou frustração, por exemplo. Todas as nossas emoções são importantes para nossa vida, mesmo aquelas que não gostamos tanto assim de sentir.
A má notícia é que desejar não senti-las é um desejo irreal, simplesmente não funciona. A boa é que você pode acolher cada uma delas, se perguntar o que elas estão te sinalizando e aprender a regulá-las para viver melhor. Confira nesse artigo mais informações sobre esse ponto.
Para ajudar na reflexão sobre esse aspecto, a psicóloga Susan David deixa uma mensagem muito interessante sobre emoções desconfortáveis:
“Na realidade a negatividade é normal. Esse é um fato fundamental. Somos programados para nos sentirmos negativos de vez em quando. Isso simplesmente é parte da condição humana. O excesso de ênfase na necessidade de positividade é apenas uma outra maneira de a nossa cultura medicar de modo figurativo e em excesso as flutuações normais das nossas emoções”.
Comece a acolher suas emoções, permita-se senti-las e um mundo de possibilidades se abrirá, acredite. Se tiver grandes dificuldades, saiba que buscar psicoterapia pode também ser uma meta, e das mais lindas, viu?
2) Liste as emoções que você tem mais dificuldade em lidar
Embora a gente não sinta conforto com emoções desagradáveis de maneira geral, todo mundo tem aquelas emoções específicas que sempre acabam nos tirando da linha, não é verdade?
No meu caso, por exemplo, são duas. A primeira é a raiva. Sempre que a sinto de forma intensa tenho dificuldade em enxergar o espaço entre a minha emoção e o meu comportamento, especialmente com pessoas próximas.
E a outra emoção é a tão conhecida ansiedade, sei que boa parte das vezes que me sinto muito ansiosa acabo procrastinando todas as atividades do meu dia ou semana e fico pensando em como as coisas precisam ser resolvidas logo e pra ontem, sem fazer absolutamente nada a respeito.
Você também pode fazer uma lista das emoções que mais tem dificuldade em lidar e colocar para cada uma delas o que normalmente você faz quando se sente dessa forma e se você considera isso bom ou ruim para você e seus relacionamentos.
Nos meus exemplos, poderia ficar dessa forma:
Emoção | Comportamento mais comum | Avaliação do comportamento |
Raiva | Gritar / ser irônica | Prejudica minha relação com as pessoas que amo/me importo e prolonga situações dolorosas que poderiam ser resolvidas mais rapidamente |
Ansiedade | Procrastinar / passar muito tempo ruminando sem conseguir fazer nada | Atraso minhas atividades e deixo de participar de programas de família para minimizar o atraso. |
Você pode fazer isso com quantas emoções desejar e achar necessário: frustração, angústia, tristeza, desânimo, ira etc. Talvez se surpreenda com o quanto a maneira como você lida com elas prejudica seus planejamentos e relacionamentos de forma geral.
Note que a avaliação não é da emoção, mas do comportamento! Isso porque as emoções em si não agem por nós, elas apenas motivam nossa ação. Além disso, todas as emoções em alguma medida são necessárias para nossa vida individual e em sociedade. Não sentir ansiedade poderia nos trazer uma série de prejuízos em relação a cumprimento de prazos e preparação prévia para diferentes eventos da vida, por exemplo (Para saber mais sobre isso acesse este artigo aqui).
Por isso, é justamente no espaço entre o que sentimos e o que fazemos que podemos focar o nosso planejamento.
3) Crie pelo menos uma estratégia saudável para cada emoção desconfortável listada anteriormente
Agora que já identificamos aquelas emoções que mais temos dificuldade em lidar, vamos criar uma estratégia para substituir o que normalmente fazemos e avaliamos ser improdutivo. No meu exemplo da raiva, gritar e ser irônica acaba sendo péssimo para mim e para as minhas relações, então minhas metas para situações como essa passou a ser:
tentar me afastar fisicamente do local quando sentir muita raiva e só retornar quando me acalmar.
quando não for possível o afastamento físico, pedir um tempo e respirar profundamente sem falar nada até me acalmar.
Nas primeiras vezes você vai notar que escrever essas metas não adiantou muito, provavelmente vai começar a gritar ou ser irônico ao sentir raiva. No entanto, e aqui está o pulo do gato, quando se der conta disso dentro da situação, comece a fazer o que colocou em sua meta e, aos poucos, você vai perceber que o tempo para você lembrar das estratégias novas vai começar a diminuir.
Vale salientar que nas suas estratégias pode também incluir pedir ajuda de alguma pessoa. Por exemplo, você pode avisar a ela que está com muita raiva naquele momento para responder e que você precisa se acalmar antes de continuar conversando.
Parece fácil, mas é difícil. Aprender novos comportamentos e incorporá-los em nossa rotina exige prática da nossa parte e flexibilidade para reconhecer o comportamento que não achamos legal, compreender o que fazemos diante dele e tentar ir mudando aos poucos. Tente ser paciente consigo mesme e acolher suas falhas no processo.
4) Planeje momentos que te permitam sentir emoções confortáveis regularmente
Nossos caminhos têm muitas pedras, mas eles também podem ter flores. Um café virtual com aquele amige, um filme com seu amor (pode ser com o doguinho também), um momento com seus pais, ler um livro aleatório, fazer nada sentade no sofá, admirar o mar ou a paisagem da janela de casa.
Foto: Pexels
Muitas vezes, tendemos a focar em emoções que nos incomodam, gastando boa parte da nossa energia com elas. Já sabemos que elas são importantes, necessárias e que é fundamental aprendermos a lidar com elas.
No entanto, pouco falamos sobre como criar momentos e ocasiões para estimular emoções que nos fazem bem. O que te faz bem, de verdade? Não precisa envolver dinheiro, como já vimos acima.
Evite permitir que essas atividades sejam sufocadas pela sua rotina. Elas são tão importantes quanto seu trabalho e, de preferência, devem constar na sua agenda para que você não ache que está perdendo tempo.
Promover momentos de pausa é contribuir com a qualidade de todas as áreas da sua vida. Sim, até do seu trabalho! Já colocou esses momentos aí nos seus compromissos?
5) Crie estratégias para tornar a rotina da casa mais leve
Sabemos que com a pandemia o tempo em casa predominou. Com ele, muitas atividades também se intensificaram, como limpeza, louças para lavar, comida para cozinhar e uma lista sem fim.
Para muitos, essas atividades são estressantes e acabam sendo feitas no piloto automático ou com insatisfação, enquanto pensamos em outras coisas mais produtivas que poderíamos estar fazendo.
Saiba que você pode tornar menos desagradável esses momentos, caso não dê pra ser diferente. Se você mora sozinhe, por exemplo, não dá pra não lavar a louça, mas o que você pode fazer para tornar essa tarefa mais agradável? Ligar pra alguém, ouvir o seu álbum favorito, colocar os podcasts em dia ou mesmo planejar mentalmente o seu fim de semana em família?
Anote todas as tarefas que não exigem sua concentração extrema e pense em alternativas que tornem esses momentos necessários mais leves e minimamente prazerosos. Ninguém merece ficar de mal humor toda vez que for lavar a louça, né?
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6) Vá além da meta “ser feliz é a resposta” no seu planejamento emocional
Já falei sobre esse ponto neste artigo aqui, mas é sempre bom ressaltar que metas assim são irreais e muitas vezes podem nos desmotivar. Este não é um convite para que você queira ser infeliz, mas já que estamos falando de planejamento emocional, vamos tentar ir além de apenas tentar ser feliz?
Isto é, como deixar esse desejo mais concreto, mais real, com pequenas coisinhas do dia a dia que podem fazer toda a diferença em seu 2021? Comece com metas pequenas, simples, considerando o seu jeitinho de ser hoje e o que é possível dentro da sua rotina hoje.
Gostou das dicas? O que você acrescentaria para pensar sobre o seu planejamento emocional?